O conceito de depressão para o espiritismo é o
mesmo que para a medicina, ou seja, um conjunto de sinais e sintomas
depressivos (tristeza, falta de prazer, insônia, perda de apetite, choro fácil,
etc), que duram mais de duas semanas. O espiritismo, que define o espírito como
a essência do próprio ser, explica a depressão como uma doença espiritual, uma
fase avançada do processo obsessivo, resultado do assédio persistente de
espíritos inferiores sobre a mente do homem e dos que o circundam. Segundo Allan
Kardec no livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. 28, item 81, chama-se
de “obsessão a ação persistente que um mau espírito exerce sobre um indivíduo.
Apresenta caracteres muito diferentes, que vão desde a simples influência
moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do
organismo e das faculdades mentais”. Quanto
a origem da palavra depressão deriva do latim deprimere, verbo que significa “prensar,
esmagar, afundar”. Assim podemos entender que a palavra depressão define o
estado que muitas vezes sentimos quando o nosso corpo se esmaga e se aperta em
si próprio. A depressão não é uma doença atual, existe
desde o inicio da humanidade e era conhecida como melancolia
atribuída por castigo dos deuses. São milhões de pessoas em todo mundo
que sofrem de depressão segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), porém
apenas uma pequena porcentagem realiza o tratamento necessário. Considerado um
dos grandes males do nosso século, causas diferentes podem levar uma pessoa ao
estado depressivo, uma condição terrível e que impacta diretamente na qualidade
de vida das pessoas, podendo levar até consequências mais graves e é uma das causas de 850 mil suicídios por ano em
todo o mundo. Conhecida também como “doença da alma”, podemos dizer que a
depressão é algo complexo, é uma espécie de tristeza infinita que se soma a
outros fatores (físico e químico) e é gerada por um desequilíbrio no organismo,
sobretudo no cérebro, o comandante maior do nosso corpo. Sidarta Gautama,
o Buda, fundador do budismo, afirmava há mais de 2.600 anos que “Somos o que
pensamos”, mas até hoje poucas pessoas se dão conta de como isso é verdadeiro.
Com base nos recentes estudos neurocientíficos, podemos nos arriscar a dizer
que não apenas somos o que pensamos, como também caímos doentes por causa
disso. Embora o tempo de
duração da depressão possa ser mais ou menos longo, dependendo do caso, este
transtorno mental é caracterizado pela OMS por alguns sintomas comuns
tais como; tristeza persistente, perda de interesse, ausência de prazer,
distúrbios do sono ou do apetite, cansaço, entre outros sinais de alerta
importantes. Além de uma série de sintomas físicos, existem também razões
espirituais que podem desencadear este transtorno. Há certa dificuldade na aceitação das chamadas
“doenças da alma”, uma vez que os sintomas iniciais são invisíveis e quando a
gente se dá conta o corpo já somatizou e adoeceu. Materialistas que somos, amantes das
aparências, tendemos a desconsiderar o que requer profundidade de envolvimento
com sentimentos. Afinal, vendo a pessoa, ali na nossa frente, sem
manchas pelo corpo, sem febre, aparentemente normal, como podemos perceber que
há um mundo invisível dentro do outro? Como podemos entender que a alma está
sofrendo? A visão espírita sobre a depressão apresenta um panorama amplo, que
envolve outros fatores como, por exemplo, as obsessões como já dissemos: “A
obsessão é o domínio que alguns espíritos podem exercer sobre certas pessoas.
São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominar, pois os bons não
exercem nenhum constrangimento. Os bons aconselham, combatem a influência dos
maus, e se não os escutam preferem retirar-se. Os maus, pelo contrário, agarram-se
aos que conseguem prender. Se chegarem a dominar alguém, identifica-se com o
Espírito da vítima e a conduzem como se faz com uma criança” (Livro dos
Espíritos, questão 237). Somente quem já passou ou presenciou um quadro
depressivo ou viu um familiar assim pode
falar sobre a dor que isso traz, pois todos os envolvidos acabam atingidos de
alguma forma, onde as cicatrizes são invisíveis e o pedido de socorro vem do
fundo do olhar da pessoa deprimida. O modo como nossa sociedade vive
hoje apresenta um terreno propício para que o emocional das pessoas se abale, tendo
em vista a pouca importância dada ao que vem da alma. A supervalorização das futilidades,
a superexposição de conquistas materiais, a busca desenfreada pela fama, entre
outros, caracterizam uma sociedade descuidada com os sentimentos. A depressão
como doença da alma se instala sorrateiramente. Não escolhe cor, raça,
religião, idade, estado civil ou social. É uma doença tão dolorosa, quanto uma
doença do corpo. Desfaz casamentos, afasta pais do convívio familiar, afeta
jovens e crianças. Tira a alegria de viver, o prazer de sorrir, a energia do
viver. Vale lembrar que a depressão não é tristeza. Os principais sintomas e
sinais da depressão são: cansaço extremo, fraqueza, irritabilidade, angústia,
ansiedade exacerbada, baixa autoestima, insônia ou sono de má qualidade, falta
de interesse por atividades que antes proporcionavam prazer, pensamentos
pessimistas, pensamentos frequentes sobre morte, comportamentos compulsivos,
dificuldades para se concentrar, sensação de impotência ou incapacidade para os
afazeres cotidianos. Não é preciso apresentar todos esses sintomas para
realizar o diagnóstico de depressão. O
médico psiquiatra, professor e escritor Augusto Cury, ressalta: “nunca despreze
as pessoas deprimidas, a depressão é o último estágio da dor humana”. A
depressão é a escuridão. Importante estarmos atentos ao comportamento e aos
sentimentos das pessoas que estão ao nosso redor. Como já dissemos, a
depressão pode levar ao suicídio e diversos são
os fatores que podem levar uma pessoa a cometer esse ato insano, dentre eles a
falta de fé, a descrença na vida após a morte, a ilusão de que com a morte o
sofrimento acaba, o orgulho ferido, o sentimento de tédio diante da própria
vida, que julga não ter objetivos, planejamento, bem como a falta de forças
para enfrentar as adversidades da vida e o medo de fracassar. Em “O
Livro dos Espíritos”, na questão 944, temos a seguinte pergunta: “Tem o homem o direito de dispor da sua vida?”
Resposta: “Não; só a Deus assiste esse
direito. O suicídio voluntário importa numa transgressão desta lei.” Já no
livro “O Céu e o Inferno”,
capítulo V, lemos que o suicídio é um crime aos olhos de Deus e
em “O Evangelho segundo o
Espiritismo”, capítulo XXVIII, item 71, temos: “O suicida é qual o prisioneiro que se evade
da prisão, antes de cumprida a pena; quando preso de novo, é mais severamente tratado. Na tentativa de escapar às misérias do presente ele acaba mergulhando
em desgraças maiores”. Não podemos negar que a tristeza está presente na luta diária de cada um de nós. Ela é uma
reação natural de todos nós quando temos que lidar com expectativas, sonhos e frustrações o tempo todo. Inclusive, a tristeza faz parte do nosso amadurecimento.
Ela é também uma resposta de adaptação temporária, útil e proporcional a um
sofrimento vivido. Entretanto, precisa realmente ser temporária e proporcional
ao que se passou. Quando esse sentimento ruim passa a ser constante e é
acompanhado de outros comportamentos prejudiciais é preciso ficar atento, pois
pode ser um sinal de depressão. Tristeza e Depressão são coisas diferentes. Tristeza tem motivo. A pessoa
sabe que está triste; A depressão é uma tristeza profunda e muitas vezes sem
conteúdo, sem motivo aparente. Mesmo se algo maravilhoso acontecer ou estiver
acontecendo, a pessoa continuará triste; A pessoa triste pode ter sintomas no
corpo, como sentir aperto no peito, taquicardia, chorar; A pessoa deprimida tem
pensamentos suicidas; Quem está triste costuma ter pensamentos repetitivos
sobre a razão da tristeza; Quando deprimida, a pessoa sente, pelo menos, duas
semanas de uma tristeza profunda e contínua. Por
isso, é preciso entendemos do assunto, sem preconceito ou julgamentos, e não
ignorar os sinais. A depressão é uma doença séria e que tem sintomas e estágios
diferentes, mas que pode ser prevenida e tratada, inclusive de uma
maneira mais completa e integral, envolvendo corpo, mente e espírito. Não se deve desconsiderar a importância do tratamento
médico nem psicológico convencional, mas somar ferramentas poderosas como
a prece e a conexão com Deus para tranquilizar o coração e mudar a sintonia dos
pensamentos, ajudando tanto aquele que sofre de depressão, quanto os espíritos
próximos para que sejam auxiliados. A reforma íntima
é o caminho, pois não serve somente para a cura da depressão, mas para o
resgate de uma vida inteira de infortúnios. A reforma íntima é o pilar central
da cura de qualquer ser, para qualquer doença em que a alma seja a principal
acometida. É nessa reforma que iremos nos conhecer, descobrirmos que não
somos perfeitos e que podemos, a qualquer momento, ir mudando o que nos causa
desequilíbrio. A reforma íntima é o principal remédio que nenhum psiquiatra,
médico, médium da
casa espírita, padre, pastor ou monge precisa receitar. É um remédio que
depende somente da própria pessoa querer começar a tomar. A reforma íntima é um
compromisso. E mais. Não é dose única ou se assemelha a um tratamento de alguns
meses. É para a vida inteira. A reforma íntima é o ato de se modificar por
dentro, aprendendo a reconhecer e aceitar os erros, os próprios defeitos,
tentar corrigi-los. Se os erros já não podem ser corrigidos, pode-se policiar
para que não se repita e assim por diante. Para reflexão sobre o tema extraímos do livro: “Kardec prossegue”, de Adelino da Silveira,
duas perguntas feitas à Chico Xavier: 1ª) “O que é depressão?” Chico: “É a
tristeza indevida que se transfigurou em desânimo, obscurecendo na criatura o
valor do trabalho. Chegando ao clímax desse desencanto incompreensível diante
da vida, muitas vezes, a vítima desse semelhante infortúnio, cai no desequilíbrio
das forças mentais, candidatando-se à matrícula num sanatório ou, mesmo,
descendo os degraus do abismo invisível no qual se entrega facilmente às garras
da morte prematura. 2ª) “Como evitá-la?” Chico: “Trabalhando
incessantemente para o bem geral, sem qualquer expectativa de compensação
material ou espiritual, de vez que, quem auxilia a outros está, particularmente
auxiliando a si próprio.” E saibam vocês que Chico Xavier também era visitado
pela depressão, e quanto a isso ele relatou: “Quando a depressão me
ameaçava, Emmanuel me recomendava deixar o que tivesse fazendo e ir a
periferia, efetuando demorada visita aos lares em situações de penúria. Depois
de conversar com aquelas mães sofridas, eu voltava para casa com vergonha de
mim. A depressão pede o remédio do
trabalho; a pessoa triste necessita ser motivada para as pequeninas tarefas que
consiga executar… Na depressão, o médico pode ajudar muito, mas, se o deprimido
não estiver disposto a se ajudar… Quem sofre de depressão deve fugir da cama,
do sofá… Faça qualquer coisa, ore, tenha confiança em Deus. Não pense em
morrer!… A vida está em toda a parte. Não podemos ficar tristes com os nossos
problemas… Somos filhos de Deus e estamos melhorando. Às vezes, a alegria
que está nos faltando é justamente a alegria que devemos aos outros… Não sei
dizer quantas vezes eu vim para a reunião com uma certa tristeza… Ouvindo a dor
de tanta gente, a minha era insignificante. Quantos país perdem os filhos e têm
que continuar, não é mesmo!… Eu não posso ficar parado. Felicidade completa
ninguém precisa esperar; paz definitiva eu nunca pude ver, nem nos Espíritos
que se comunicam conosco… Ora, vamos nos aceitar como somos e prosseguir com
muita fé em Deus”. Meus irmãos,
enfrentemos nossa vida, pois não podemos ter outra. Lembremo-nos de que o
problema pode não ser tão grave quanto a nossa imaginação mostra. Quem sabe se
esperarmos um pouco mais, exercitando a paciência e a resignação, a dificuldade
não toma outro rumo, a doença não recebe o remédio correto, o desgosto não tem
o consolo necessário? Depositemos a nossa confiança inteiramente em Deus. Ele
sabe o momento oportuno de nos tirar do embaraço. Lerei uma psicografia
que retrata bem o estudo de hoje. Psicografia
recebida pela médium Catarina, de Cris, um espírito suicida aos 19 anos: “Por que esse choro, por que essa aflição?
Você tem de tudo é jovem, feliz... O que mais você quer? Era isso que todo
mundo que me conhecia falava para mim. Eu era um trapo humano, só chorava e
queria morrer para ver se tudo isso acabava. A depressão me consumia. Cada dia
que passava era um tormento. As noites um pesadelo.
Eu era uma jovem, que aos olhos dos outros nada me faltava. Mas me faltava algo
que ninguém percebia. Era uma força interna, capaz de me sustentar. Eu era
vazia... Não tinha sonhos, só pesadelos. Até que um dia eu resolvi liquidar com
tudo isso, e me matei. Aí sim, sofri, sofri e sofri muito. Aquilo que eu havia
sofrido em vida não era nada perante meu sofrimento após a morte. Achava que
estava viva e as dores me dilaceravam. Aí sim, não tinha ninguém para me
perguntar o “porquê” daquele sofrimento. Só me acusavam de covarde, de fraca, e
inconsequente. Eu não conseguia nem chorar, porque não deixavam. Tinha sede e
fome, mas nada para me saciar. Aí pensei em minha mãe, como ela teria ficado
sem mim? E eu a vi e a ouvi: Filha malvada, egoísta que só pensou em si. Tudo
fiz para ajudar. Paguei os melhores psiquiatras, comprei remédios caros.
Procurei ajudar o quanto podia. E qual foi a resposta que me deu? Matou-se.
Agora nada mais poderei fazer, pois quem está em depressão sou eu. Só que com
ajuda de Deus eu não vou praticar o ato que você praticou. Lavo minhas mãos,
pois não posso ajudá-la. Hoje eu estou bem melhor, pois ao me sentir só e vendo
que minha mãe teria ajuda de Deus, procurei também buscar Deus para mim.
Apresentou-se a mim uma pessoa bondosa, que carinhosamente me pegou em
frangalhos e me levou para um lugar onde pude ser lavada, tratada, alimentada e
onde fui morar por uns tempos. Muitas pessoas como eu lá estavam: uns em
recuperação, outros tresloucados que mal sabiam o que havia acontecido, mas
todos sem exceção eram suicidas como eu. De tempos em tempos tínhamos a
obrigação de levarmos alimentos e agasalhos para eles. E quando um ou outro se
recuperava, nós também nos melhorávamos. Tivemos uma ocasião em que numa
reunião espiritual pudemos expor nossas situações de encarnados (na encarnação
anterior) e vimos que era uma prova que tínhamos que passar, pois fomos
suicidas em outras vidas, mas sucumbimos. Vamos fazer um curso aperfeiçoamento
moral em que vamos ser instruídos para uma nova encarnação, com provas mais
severas. Mas temos certeza que Deus não vai nos desamparar. Queremos com essa
carta dizer a vocês: Valorizem a encarnação, por pior que ela seja. As provas
passam, e são levadas como folhas ao vento. Somem e nem percebemos. Quando vier
a tentação não devemos vacilar em pedir ajuda aquela pessoa ao nosso lado. O
orgulho é benéfico, mas tenhamos a humildade de dizer ao outro: Estou sofrendo
me ajude!”
Encerro
o estudo dessa noite lendo uma linda reflexão do nosso amado Chico Xavier: “Tenha fé, acredite e confie nos desígnios de Deus...
Tudo aqui é passageiro, e isso também vai passar. Guardemos a certeza pelas
próprias dificuldades já superadas que não há mal que dure para sempre”.
Lembremos
sempre que hoje somos o melhor de nós. Que Jesus nos conceda
a cura do corpo e da Alma. Paz e Luz para todos!
FONTE: