Hoje falaremos um pouco mais sobre nossa SOMBRA. Nossa sombra
interior pode ser definida como o lado escuro da nossa mente, onde guardamos
sentimentos poucos dignos, que poderiam nos desconfigurar do nosso projeto em
busca da evolução espiritual. São ideias, desejos e memórias que foram
reprimidas pelo consciente, por ser incompatível com a alma ideal e contrárias
aos padrões morais e sociais. Muitas vezes, dentro do nosso intimo convivemos
com imagens indesejadas e inaceitáveis, difíceis de serem acessadas pois estão
muito bem escondidas. Estudiosos do assunto afirmam que nossa personalidade é
formada, desde criança, a partir de comportamentos entre o que queremos e
gostamos e o que a sociedade define como certo e errado. Quando somos pequenos
ficamos um pouco confusos com o que queremos e o que não podemos fazer e vamos
aprendendo a esconder um monte de coisas dentro de nós, pois o que queremos ou
sentimos não é aceito. Em outras palavras, ao longo de nossa vida somos
obrigados a fazer escolhas forçadas na maioria das vezes induzidos pelos
valores morais da coletividade e assim vamos criando padrões e noções a nosso
próprio respeito diferente de quem realmente somos. Para melhor entender vou
citar um exemplo: “José é um homem preguiçoso, mas ele não quer reconhecer
isso. A preguiça nele é reconhecida como sendo um não-eu, já que ele não
reconhece para si nem para os outros que ele é preguiçoso. José então pede a
Pedro que está sentado ao seu lado para fazer o favor de alcançar uma pasta que
está na outra mesa. Pedro lamenta e diz que não pode e que o próprio José
poderia pegar a pasta, já que a distância é a mesma. José então fica indignado
e chama Pedro de preguiçoso porque ele foi incapaz de se levantar para pegar a
pasta. O engraçado é que o próprio José também foi incapaz de levantar para
pegar a pasta, o que o torna, segundo seus próprios critérios, um preguiçoso.
Mas como a preguiça no José faz parte de sua Sombra, ele não reconhece como
sendo de si mesmo, mas sim projetado no outro e como sendo o outro”. Esse lado
que não queremos reconhecer em nós mesmos foi denominado pelo psicanalista Carl
Jung de SOMBRA. Muito se fala sobre o “Conhece-te a ti mesmo”, e podemos
estudar nas obras de Kardec e na Série Psicológica de Joanna de Angelis que o
autodescobrimento e reforma interior ocupa um papel importantíssimo no processo
de desenvolvimento moral profundo do ser humano. Jung diz que "o encontro
consigo mesmo significa, antes de mais nada, o encontro com a própria sombra”. Mas para sabermos quem somos, temos que nos
conhecer, e chega um dia que esse confronto conosco se torna inadiável: ou criamos coragem para
perguntar quem somos, ou nos destruímos interiormente e pagamos o preço por
isso, vivendo na superficialidade da existência, aparentemente adequados e
internamente vazios, em constante depressão. Como se diz: “vivemos só de
fachada”. A partir destes
esclarecimentos, começamos a verificar a existência de duas dimensões em nós:
um "eu" que reconheço, aceito, admiro e mostro a todos; e um
"não-eu", uma parte que não aceito, recrimino, julgo, condeno e
escondo de todos, até de mim, mas que vive dentro de mim. Jung afirma: "Infelizmente, não se pode
negar que o homem como um todo é menos bom do que ele se imagina ou gostaria de
ser. Todo indivíduo é acompanhado por uma sombra, e quanto menos ela estiver
incorporada à sua vida consciente, tanto mais escura e espessa ela se
tornará". E como toda boa sombra, ela fica no nosso pé, tipo aquela sombra
que se forma quando nosso corpo bate na luz. A gente anda e a sombra anda, a
gente corre e a sombra corre. As crianças adoram brincar com essas sombras
quando as descobre. Então voltando ao assunto da sombra interior: podemos dizer
que sempre quando desejamos agir de determinada maneira e não conseguimos,
quando agimos impulsivamente e depois nos arrependemos, quando somos tomados
por compulsões, quando sentimos uma presença nos puxando para o outro lado como
uma força dentro de nós mesmos, estamos nos referindo à sombra. É verdade! Não
é um espirito obsessor não.. é você mesmo, seu lado sombrio, aliás, o obsessor
pode até potencializar sua sombra, mas tenha certeza que o obsessor sozinho não
consegue muita coisa. Mas a boa noticia é que nossa Sombra pode ser nossa
amiga. Na verdade ela é uma realidade que não pode ser negada. Todos nós a
possuímos! Deparar-se com nossa sombra é uma das tarefas mais difíceis para nós
religiosos, por ser uma questão moral. "Ninguém é capaz de tomar consciência
desta realidade sem gastar muitas energias morais." Por isso é tão difícil
o confronto interior. Com certeza é mais fácil fingir que o conteúdo não é
nosso, esquecer, negar, comportar-se diferente, projetar nos outros e etc. Carl
Jung disse: "O encontro consigo mesmo pertence às coisas desagradáveis que
evitamos, enquanto pudermos projetar o negativo à nossa volta". Joanna de
Angelis acrescenta: "Todos aqueles que são portadores de sombra — e todos
o são — em vez de a compreenderem na condição de processo de crescimento,
experimentam uma certa forma de vergonha, de constrangimento, e procuram
disfarçá-la. Tal comportamento dá lugar a uma sociedade hipócrita, artificial,
incapaz de procedimentos maduros e significativos que a todos beneficie. O ser
mais hábil no disfarce é sempre o mais homenageado querido, produzindo-lhe
maior soma de conjunto, porque se vê obrigado a continuar a parecer aquilo que,
realmente, não é". Caros irmãos, contatar
e aceitar nossa sombra não significa que o que habita nela deva ser
exteriorizado sem critérios, ou vivido sem controle, pois isso significaria ser
possuído pela sombra, o que seria doentio. Contatar a sombra é uma arte. Não
pode ser pura e simplesmente se submeter a ela, porque esse contato sem
consciência produz perturbação emocional. O confronto com a sombra, muitas
vezes, retira nossos apoios – as tão faladas “muletas” - destrói nossas bases
morais artificiais e nos joga no chão. Para exemplificar essa sensação
esmagadora e a perturbação que o contato com a sombra pode proporcionar, vou
ler um relato interessante de uma pessoa que se propôs a enfrentar esse lado
escondido: "Creio que aquele sentimento de desestruturação de toda minha
vida está piorando. Como se tudo que sempre acreditei não valesse mais.
Valores, crenças, objetivos, entre outros. Como se uma pecinha do meu castelo
de madeira tivesse sido arrancada. Colocar de novo como se nada tivesse acontecido?
Difícil neste momento, mas tentador. Construir diferente? Talvez exija mudar
toda a arquitetura. Pego-me então deitada diante dele sem fazer nada, olhos
fixos sem enxergar e sem entender como a peça foi retirada, e talvez sem
entender qual peça foi tirada. Pensava estar tudo tão arrumado, apenas
precisando de uma reforminha aqui e ali. Que ilusão!" Como podemos ver, viver
o encontro com a sombra sem ser esmagado por ela é a nossa tarefa. Rever
conceitos, redimensionar nossa imagem e destituirmo-nos de determinados status;
são questões existenciais para todos nós que baseamos nossos valores nas
exterioridades, na vida material. Precisamos entender que ao fazermos contato
com a sombra não nos tornamos piores, embora essa seja a sensação mais comum.
Se pensarmos bem, estes conteúdos já faziam parte de nós, já estavam lá e
influenciavam nosso comportamento no nosso dia a dia. Com certeza já eram
sentidos ou vistos por muitas pessoas, talvez, sendo apenas por nós
desconhecidos. Não nos tornamos piores, apenas descobrimos que não somos tão bons
e evoluídos como imaginávamos. O contato face a face, olhos nos olhos, frente a
frente com nosso lado sombrio produz uma profunda transformação dentro de nós -
nunca mais seremos os mesmos. Seremos melhores, mas não em aparência, e sim em
essência. Somos herdeiros de nós mesmos, de nossas outras encarnações, de um
passado milenar, de ignorâncias, de equívocos e desencontros; mas também temos
potenciais de força, de vida e de amor. Só para exemplificar: Uma pessoa
invejosa terminará esta reencarnação com os traços da inveja - lembremos de que
estamos mais no início do que no final da caminhada -, porém, sua inveja ao
final dessa reencarnação poderá e deverá estar mais consciente e, assim, mais
sob controle, mas certamente ainda estará lá. Importante será ela aprender que
a inveja tem um sentido em sua vida; e, quando assim compreender, poderá usar
dessa energia de maneira saudável e adequada. Ela pode, por exemplo, aprender a
usar da sua inveja como impulso para aquelas conquistas que deseja e admira nos
outros, sem avaliá-los como capazes ou merecedores, canalizando sua sombra para
a realização de si mesma e de seu potencial. Não é uma mudança de "ser
outro alguém", de "não ser quem sou". É uma mudança no uso e na
canalização da energia que hoje habita em você. O contato com nossa sombra é
transformador e nos impulsiona para dias melhores, afinal, essa força em nós
precisa de consciência, canalização adequadas, autodescobrimento. Paulo de
Tarso teve um comportamento de integridade moral a partir do autodescobrimento:
o fato dele conhecer sua condição, quando afirmava “do mal que fazia e não queria
e do bem que queria e não fazia”, é que o tornou íntegro. Paulo tinha uma visão
muito profunda a respeito de si e do ser humano, de suas limitações e
dificuldades. E isso o fez um grande seguidor de Jesus. Ter consciência de sua
sombra o tornou muito mais forte. Mas, infelizmente, essa perspectiva profunda
a respeito de nós mesmos foi se perdendo. Atualmente, as pessoas se sentem
obrigadas a se identificar com o bem ou, pelo menos, a fingir que são boas. Quando
somos capazes de identificar a presença da sombra em nós e a aceitamos,
imediatamente temos a sensação de menos valia por percebermos que somos
moralmente menores do que nos acreditávamos ser. E essa tomada de consciência é
profundamente transformadora, necessitando dessa vivência para abrir espaço ao
divino que habita em nós, como ocorreu com Paulo. Paulo de Tarso disse "um
anjo de Satanás para me esbofetear", porque é justamente isso que sentimos
ao contato com a sombra. Nosso ego se sente esbofeteado, diminuído, humilhado.
Somos colocados abaixo, diminuídos em nossa imagem e ideal, e podemos deprimir,
abandonar tudo e nos vender à inferioridade, ou aproveitar dessa incrível
experiência e, a exemplo de Paulo, crescermos para dentro, em amor e humildade.
Como, em geral, o ser humano se vê nas alturas, sem aceitar sua inferioridade,
o contato com a sombra produz uma queda que não deve ser vista como obra de
Deus, punição ou sofrimento, mas como um ajuste que a vida faz, nos mostrando o
nosso real tamanho em relação ao mundo. Se não formos capazes de nos amar, como
poderemos verdadeiramente amar ao próximo se a regra fundamental da vida
apresentada por Jesus dizia amar ao próximo como a si mesmo? À medida que somos capazes de compreender
nossas dificuldades, respeitarmos nossos limites e tolerarmos nossos problemas,
poderemos agir de modo semelhante com os que estão à nossa volta. Ou seja,
amando verdadeiramente a nós mesmos, conseguiremos, na mesma proporção, amar ao
nosso próximo, ascendendo ao caminho da transformação moral, pois como diz Carl
Jung, "a descida às profundezas sempre parece preceder à subida”. Como
todo estudo, gostamos de ler um trecho do Livro “Lindos Casos de Chico Xavier”,
de Ramiro Gama, e para hoje separei este: “Alguns companheiros conversavam
furiosamente, em Pedro Leopoldo, sobre certo político. A coisa devia ser assim.
Devia ser de certo modo. O homem era a perversidade em pessoa. Prometera isso e
fizera aquilo. Um dos irmãos dirigiu-se ao Médium e perguntou: — Que diz você,
Chico? Temos alguma referência dos Amigos Espirituais sobre o caso? O
interpelado pretendia responder, mas no justo momento, em que ia emitir a sua
opinião, ouviu a voz de Emmanuel sussurrar-lhe, segura, aos ouvidos: — Cale a
sua boca. Você nada tem a ver com isso. O Médium ruborizou-se e o grupo, em torno,
verificou que o Chico não conseguia responder, apesar do desejo de externar-se.
Alguém ponderou que ele deveria estar mal e rodearam-no, em oração, dando-lhe
passes. A reunião dispersou-se. Não foram poucos os que, estranhando o caso,
afirmaram em surdina que o Chico parecia francamente um pobre obsidiado. Mas o
fato é que a sombra da maledicência não lhe penetrou o espírito e nem lhe
prejudicou, por isto, o clima de elevação, fruto de jejum e oração, em que se deve
viver. Caso digno de ser seguido por todos que zelam pela vitória de seu dia,
policiando o que lhes sai dos lábios, dominando nosso lado sombra”. Há milênios
buscamos respostas sobre quem somos, o que estamos fazendo aqui, quais são
nossos dons, habilidades, talentos, nossa missão de vida e por aí vai. Tem um
dito popular que diz: “quando penso que encontrei as respostas, vem Deus e muda
todas as perguntas”. Quando falamos da Sombra, estamos falando dos defeitos ou podemos
simplesmente chamar essa Sombra de “pontos
a melhorar” que é o nosso temperamento agressivo, explosivo, as experiências
negativas que vivenciamos, que queremos esquecer e guardamos na caixa preta da
consciência. Finalizo nosso estudo de hoje lendo um trecho do livro “Os
prazeres da alma”, psicografado por Francisco do Espirito Santo Neto, pelo
Espirito Hammed: “Lembremo-nos de Jesus Cristo, o Notável Terapeuta de nossas
almas, ao analisar os conflitos que atormentavam os seres humanos por não
admitirem os diversos aspectos da própria sombra: “Assume logo uma atitude
conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não
acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça
e, assim, sejas lançado na prisão”. Nossos piores inimigos ou adversários estão
dentro de nós, não fora. É imprescindível nos reconciliarmos com os opositores
íntimos, ou seja, enxergarmos com bastante nitidez nosso “lado escuro”, para
atingirmos paz e tranquilidade de espírito. Não somos necessariamente aquilo
que parecemos ser. O autoconhecimento é a capacidade inata que nos permite
perceber, de forma gradativa, tudo que necessitamos transformar. Ao mesmo
tempo, amplia a consciência sobre nossos potenciais adormecidos, a fim de que
possamos vir a ser aquilo que somos em essência.
Lembremos sempre que
hoje somos o melhor de nós.
Que Jesus nos conceda a cura do corpo e da
Alma.
Paz e Luz para todos!
FONTE: